Plantas que possuem efeito inseticida e/ou repelente contra o Aedes aegypti
- Projeto Farmácia Viva
- 5 de jun. de 2020
- 8 min de leitura
Atualizado: 12 de jul. de 2021
O Aedes aegypti é o mosquito transmissor de diversas doenças, dentre elas a dengue, Chikungunya, Zika e febre amarela urbana. Seu ciclo de vida compreende as fases ovos, larvas, pupa e adultos (Figura 1). Menor que os mosquitos comuns, o Aedes aegypti, possui coloração preta com pequenos riscos brancos no dorso, na cabeça e nas pernas. Suas asas são translúcidas e o ruído que produzem é praticamente inaudível ao ser humano.

Figura 1 - Fases que compõem o ciclo evolutivo de Aedes aegypti. (1) mosquito adulto; (2) ovos; (3) larva; (4) pupas. Fonte: SANTOS, M.A.V.M.Aedes aegypti (DIPTERA:CULICIDAE): ESTUDOS POPULACIONAIS E ESTRATÉGIAS INTEGRADAS PARA CONTROLE VETORIAL EM MUNICÍPIOS DA REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE, NO PERÍODO DE 2001 A 2007. Recife,2008
Devido à ocorrência frequente de chuvas, o período do verão é o mais propício à proliferação do Aedes aegypti, consequentemente tornando essa a época de maior risco de infecção por doenças transmitidas pelo mosquito. No entanto, a prevenção deve ocorrer de maneira contínua ao longo de todo o ano, por meio da manutenção de todas as atividades possíveis em ação para prevenção de focos e criadouros do mosquito. Ainda que, atualmente, o mundo esteja preocupado e concentrado no controle da pandemia de COVID-19 é muito importante mantermos as estratégias de prevenção e controle de outras doenças.
Pensando na prevenção e no controle das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, foram realizados diversos estudos com o objetivo de se selecionar plantas com efeito inseticida e/ou repelente contra esse mosquito. Alguns desses estudos obtiveram sucesso em seus resultados. Segue a abaixo algumas das plantas que demonstraram efeito inseticida e/ou repelente contra o Aedes aegypti nesses estudos:
1. Citronela (Cymbopogon spp.)
A Citronela é uma planta perene, pertencente à família Poaceae, cultivada em larga escala, especialmente em regiões tropicais (Figura 2). Estudos demonstraram que o óleo essencial dessa planta possui efeito repelente, que protege o ser humano do Aedes aegypti por até 6 horas. O óleo essencial presente na planta é rico em geraniol e citronelal, eficazes na repelência de insetos. Além disso, o óleo essencial de citronela demonstrou possuir efeito larvicida, ao provocar a morte das larvas de A. aegypti.

Figura 2 - Cymbopogon nardus (L.) (Citronela). Fonte:http://legacy.tropicos.org/Image/100111486
Seu uso para combate do mosquito pode ser feito por meio de diferentes tipos de preparo. O preparo de uma infusão com as folhas de citronela e posterior aplicação no chão e janelas atua espantando os mosquitos. Por meio do preparo de tintura com suas folhas, podem ser produzidos velas, repelentes e aromatizadores. Além disso, através das folhas dessa planta, pode-se preparar um difusor de ambiente (também conhecido como aromatizador de varetas).
Para preparo da infusão basta colocar 10 gramas de folhas secas em um recipiente limpo e adicionar sobre elas 100 mL de água fervente, abafar e deixar em repouso por 24 horas. Logo após, coar transferindo para um recipiente devidamente higienizado. Feito isso, a infusão estará pronta para uso. Já para o preparo a tintura, basta bater em um liquidificador 200 gramas de folhas de citronela picadas com 1 litro de álcool 70%. Em seguida, transfira e guarde a mistura em um vidro âmbar, devidamente higienizado, durante 15 dias, em ambiente protegido do sol e umidade. Logo após, coe transferindo o líquido para outro vidro âmbar, devidamente higienizado. Feito isso, a tintura está pronta para ser usada.
Como dito anteriormente, a citronela também pode ser utilizada como difusor, basta seguir as seguintes instruções: Separe folhas frescas de capim citronela (colhidas preferencialmente antes das 09 horas) e corte-as em pedaços pequenos com cerca de 2 cm. Deposite as folhas cortadas em um recipiente de vidro escuro com boca larga (caso seja transparente, envolver o frasco com papel alumínio ou pardo) e em seguida colocar álcool 96% ou 93,8º INPM ou superior, até cobrir todas as folhas no frasco. É necessário manter o frasco fechado por 7 dias consecutivos, em ambiente protegido do sol e umidade, agitando o frasco diariamente. Após os 7 dias, filtrar o extrato e colocar em um frasco de vidro escuro e de boca estreita para 100 mL.
Deposite no mesmo frasco pelo menos 3 palitos de madeira de Pinus com cerca de 20 cm cada e aguarde por 15 minutos até ocorrer a absorção. Após esse tempo, inverta a parte dos palitos que estava no interior para o exterior para que ocorra a difusão no ambiente (repetir o procedimento sempre que perceber a diminuição do aroma).

Figura 3 - Difusor Fonte: Google imagens
Vale ressaltar que a citronela não deve ser ingerida, devido a sua toxidez. Além disso, ela pode irritar a pele e causar dermatite em certos indivíduos. Dessa forma, não deve ser usada na pele de crianças com menos de 3 anos. Algumas pesquisas revelam que o uso prolongado (acima de 15 dias) do óleo essencial de citronela puro ou altamente concentrado sobre a pele, pode ocasionar um estado de hiperplasia das glândulas sebáceas (aumento de tamanho das glândulas sebáceas).
2. Nim (Azadiractha indica A. Juss)
Popularmente conhecida como Nim, essa espécie indiana é muito estudada por possuir multiplicidade de usos. Ela pertence à família Meliaceae e é encontrada nas regiões nordeste, centro-oeste e sul do território brasileiro.
Entre suas diversas formas de uso, destacam-se os efeitos inseticida, carrapaticida e nematicida, com alta eficiência e baixa toxicidade. Geralmente os extratos das folhas, sementes ou frutos são utilizados como inseticidas. O extrato de folhas de Nim causa retardo no amadurecimento do mosquito e gera uma mortalidade de 98% das larvas, podendo atingir o mosquito tanto por ingestão ou contato.

Figura 4 - Árvore do Nim/ Figura 5 - Inflorescência do Nim/ Figura 6 - Fruto do Nim
Fonte:https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CNPAF/21626/1/circ_62.pdf
Para preparar o extrato caseiro de Nim, basta proceder da seguinte forma: As folhas ou sementes secas, devem ser amassadas/trituradas e deixadas dentro d'água por 24 horas. Depois é só misturar este concentrado à água na proporção de 2 a 10 litros de extrato de Nim para 100 litros de água. Coar e colocar no pulverizador. Feito isso, basta pulverizar no ambiente desejado.
Já para o preparo da tintura, em um vidro âmbar, devidamente higienizado, depositar sementes secas ou em pó de Nim e álcool 92,80 INPM, seguindo a seguinte proporção: uma parte de sementes secas ou em pó para 3 partes de álcool. Feito isso, feche o frasco e guarde-o por 48 horas em um ambiente protegido do sol e da umidade. Após esse tempo, coe o líquido contido no frasco transferindo-o para outro vidro âmbar, devidamente higienizado. Logo após esse processo, a tintura estará pronta.
Outra forma de utilizar o Nim é através do seu óleo, que possui efeito repelente contra o Aedes aegypti com tempo de proteção de 300 minutos. Basta adicionar 10 gotas do óleo de Nim em cremes para pele ou protetor solar e em seguida aplicar sobre a pele.
3.Cinamomo (Melia azedarach L.)
Pertencente à família Meliaceae, a Melia azedarach L. também possui comprovada eficácia no controle do Aedes aegypti. Popularmente conhecida como Cinamomo ou Santa-Bárbara, é de origem indiana e facilmente encontrada nas regiões sul e sudeste do Brasil, onde é amplamente cultivada.
O cinamomo se destaca por possuir diversas propriedades, incluindo ação inseticida e repelente. Seu efeito inseticida é devido à presença de compostos limonóides, o que gera uma inibição no crescimento ou na alimentação de insetos.

Figura 7- Detalhe das folhas/ Figura 8 - Detalhe da flor e botões florais
Para preparar o extrato caseiro de cinamomo basta em um vidro âmbar, devidamente higienizado, misturar 1 litro de água com 1 litro de álcool e depositar nessa mistura 500 gramas de sementes de cinamomo secas e moídas. Deixe descansar por 4 dias. Após esse tempo, coe e transfira o líquido para outro vidro âmbar, devidamente higienizado. Feito isso, seu extrato estará pronto. Para usá-lo basta diluí-lo a 10%, ou seja, para cada litro de extrato usar 10 litros de água. Após a diluição, basta colocar o líquido diluído em um pulverizador e aplicar no ambiente desejado.
Vale frisar que a ingestão das folhas e frutos maduros dessa planta é tóxica, podendo acometer tanto animais como humanos. Em consequência disso, pessoas que ingerem podem apresentar náuseas, vômitos, constipação ou diarreia hemorrágica, dispneia e ritmo cardíaco débil.
Por fim, é de suma importância a utilização correta dessas espécies, seguindo as orientações informadas acima. É imprescindível que os produtos fiquem fora do alcance de crianças a fim de evitar acidentes e ingestão.
Fontes:
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